quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

chovia

eu andava só,
na rua sob a chuva fraca,
que agraciava com alguma má-vontade
as folhas ferventes de sol.
sem muito o que pensar
- pra dizer a verdade, talvez nem pensasse,
queria resolver-me e ir pra casa.

mas ela...
por alguma razão
me senti preso:
no momento em que ela se sentou
naquele banco de praça
e olhava de perfil o infinito
me senti menor do que jamais tinha sido.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

angústia aquário

um dia foi real
aquela sensação de que
quando se olha nos olhos de alguém,
descreve-se o impossível de explicar.

e como ver a vida de fora?
estranheza do lado de lá,
setenta dias e eu ainda vejo
manchas coloridas no ar.

sinto o mundo defasado.
mexem a boca,
mas não posso escutar,
agoniado.
não desejaria ao pior inimigo
o meu lugar.

e eu corro,
sem ter muito onde chegar,
tentando passar o que passou.

deixo rastros e restos
por onde passo
e explodo em mil pedaços
quando vem e atinge em cheio,
cada fio de devaneio
rastejando, entrecortar
o pouco de razão que me restou.

mas nada muda,
(na verdade nunca muda),
sinto-me como de costume:
estrangeiro, posto
em meu lugar.