quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

postcards of poster cards

uma prece tirada de cartões postais
que faça minha carne cicatrizar,
me carregar até a praia
com a segurança de fotos antigas.

coberto de panos lisos,
e com gritos presos no peito,
caminhamos feito fantasmas
sem lares pra assombrar.

espalhar nossas vozes
por desfiladeiros.

e só de vez em quando,
o vento das noites me iça
feito vela de navio,
e me leva pra um novo lugar.

e por um segundo,
só por um segundo,
me esqueço que somos tão frágeis,
feito robôs enferrujados,
rangemos feito os assoalhos
da casa que nos faltava
pra assombrar.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Eterno retorno (à mantiqueira)

O ar sincero dessas cidades,
muito cheiro de mato,

cheiro de café com terra.
Nada dos sais e gases
inebriantes,
menos gosto do amargo.

Cheiro de frio.
Feito aquela coberta que tinha pra dormir, quando criança.

Talvez mais cheiro de gente do que se imagina.
Cheiro de gente com terra, gente que cheira a chuva
(aquele cheiro de chuva que a gente conhece).
Cheiro que não me esqueço,
do lampião queimando junto do cigarro de palha.
O que o indefinível deve cheirar.

Valor

Sugando o ar pelas narinas semicerradas,
sinto o cheiro do novo -
do novo sem culpa, sem exprobação,
do novo que se vale de si,
que abre o peito,
novo-bisturi.

Poema do encaixe (ou sobre porque volto a escrever)

Escrevo como quem comeu demais -vomito- e de pesado, cheio, enojado de mim, abro a janela e torno-me vento, correndo trazer más notícias da vida, das favelas que murmuram o dia todo, do asfalto que ronca, ferve, racha e divide. Duas pernas de pau bamboleam no chão e um sol dourado no céu me impede de pensar direito, mas de abrir portas é que a vida é feita.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

serenidade

uma hora a cada dois minutos
e eu sempre me apaixonando por um novo sonho
cansando de ser gente o tempo todo

e que nos encontremos na rua
que nos esbarremos nas calçadas
que paremos lado a lado num sinal fechado

que nossos olhos se percam
de tudo o que há para se perder