segunda-feira, 12 de setembro de 2011

biografia da manhã

eu me sento frente a mesa,
e bem gostaria de escrever
que os sonhos são pra sempre,
ou que vale simplesmente existir, de qualquer modo.

mas alguém lá fora chama meu nome.
chama meu primeiro nome (pelo qual ninguém me chama).
e sinto vontade de atendê-lo
(eu sei que
batem 5 da manhã
e ninguém de fato me chama)
mas sinto o impulso de atendê-lo.
quase sinto necessidade.

não vou!,
pelo simples fato de não saber que não há nada lá fora.
eis que a voz me chama mais forte.
e dessa vez vem da janela.
penso em me esconder ou fugir.
recomposto - com a pouca coragem que tenho - levanto-me.
corro logo pra fora, e então vejo quem era.
me pedindo pra acordar e contemplar
a manhã clara que agraciava espinhos e flores,
o dia.

paredes de madeira pintada de branco

bebo de novo da minha alegria engarrafada,
que me esquece o que eu preciso esquecer:
o paraíso provisório com que sonho.
fendas se abrem no chão,
e eu caio, e choro,
olhando pro céu cor de ypê que se abre pro sol.

sorrisos amarrados nos rostos de quem passa na rua,
mas me lembro que estão todos comigo,
caindo.

sem mãos nas quais me segurar,
eu prefiro dar logo vez ao baque que me espera.

misantropicália

minha alma hoje
tem cheiro de anteontem
e eu não sei mais diferenciar.
a sombra da lua quase
parece mais intensa que a luz.

quase tudo
que me rodeia
de um lado a outro me incendeia por dentro
quando me ponho a pensar
que significa cada coisa

e as coisas lá significam?
(eu, mais do que ninguém, devia saber).
não me esconda a verdade
mais do que for necessário

quem deve mais aos dias
é quem tem medo,
se tranca no quarto e escreve

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

poema de boemio apaixonado

as luzes como notas musicais pulsavam aos meus olhos
e via o dia feito sinfonia
a noite me soava réquiem
e madrugada me vinha como o canto dos bebados da periferia

com o cheiro de cigarros recém-fumados
da boca de quem não tem nada a perder
vinha o canto dos malditos.
e o tempo parava
para que eu observasse
ecoar meu nome em várias bocas
mas da sua,
soava melhor.